1º de Maio: data histórica de lutas resiste às tentativas de esvaziamento
Especialistas explicam origem do Dia do Trabalhador e alertam para desafios atuais, como a precarização, jornadas excessivas e perda de direitos

Foto: oto: Valter Campanato/Agência Brasil
Mais do que uma celebração, o 1º de Maio é um marco de luta da classe trabalhadora desde sua origem, em 1886, nos Estados Unidos, quando trabalhadores foram duramente reprimidos ao reivindicar a redução da jornada diária de 14 para 8 horas. O episódio, conhecido como “tragédia de Haymarket”, resultou em prisões, execuções e motivou, em 1889, a escolha da data como símbolo internacional da luta operária.
“O 1º de Maio nasce da repressão violenta e da resistência dos trabalhadores. Ao longo do tempo, foi ressignificado por diferentes governos, ora como dia de luta, ora como data comemorativa esvaziada de seu conteúdo político”, explica o historiador Samuel Fernando de Souza, da Escola Dieese.
No Brasil, a data começou a ser lembrada no fim do século 19, e ganhou contornos oficiais no governo de Getúlio Vargas, que a usou para anunciar medidas trabalhistas, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e reajustes no salário mínimo.
A pesquisadora da UnB Laura Valle Gontijo destaca que o sentido original do 1º de Maio é frequentemente diluído. “Transformar o Dia do Trabalhador em ‘Dia do Trabalho’ foi uma estratégia para apagar seu caráter de luta. Assim como ocorre com o 8 de Março, tentam esvaziar o conteúdo político da data”, diz.
Atualmente, os trabalhadores enfrentam novos desafios, como a pejotização, a informalidade e as jornadas exaustivas impostas por plataformas digitais. Segundo pesquisa de 2022, entregadores de aplicativo chegam a trabalhar até 80 horas por semana, em condições similares às da Revolução Industrial.
Além disso, há um movimento crescente pela redução da jornada semanal para 40, 36 ou até 35 horas, como já acontece em países como a França. “A produtividade aumentou com as novas tecnologias, mas os benefícios não têm sido repassados ao trabalhador”, critica Laura Gontijo.
Outro ponto de debate é o modelo de escala 6×1, que, segundo a pesquisadora, impede o convívio social e familiar, tornando-se insustentável. A proposta de ampliação do descanso semanal para dois dias ainda enfrenta resistência do setor empresarial.
“O que se observa é um retrocesso nas garantias trabalhistas, aumento dos casos de assédio e adoecimento, e um enfraquecimento do poder sindical. Por isso, mais do que nunca, o 1º de Maio deve ser um dia de mobilização”, conclui Laura.
Fonte: Agência Brasil
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